A partir do tema central escolhido para o ano – A Construção da Cidadania no Brasil –, a palestra se debruçou sobre três momentos essenciais para entendermos os movimentos estudantis e a manifestação política das ruas promovida pelas esquerdas em diferentes contextos, com pautas diversas e resultados amplos. Os recortes escolhidos foram: Os caras-pintadas, em 1992; o movimento Passe Livre, que agitou o país em 2013; e a mobilização estudantil, em 2016, com a ocupação de mais de 1000 escolas no país.
Para abordar o tema dos caras-pintadas, do neoliberalismo e o impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello, contamos com a participação do professor Marcelo Buzetto, doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP, membro do Centro Acadêmico “Honestino Guimarães” do Centro Universitário Fundação Santo André e participante ativo do movimento dos “Caras Pintadas”. Em sua fala, o professor relembrou sua participação nos movimentos contra o ex-presidente Collor e ressaltou os protestos como um momento de mobilização não apenas contra um governo, mas também contra a pauta neoliberal, que era a agenda central da direita brasileira naquele momento. Buzetto também relembrou a importância da juventude e do movimento estudantil para o trabalho de base e organização das atividades de conscientização política. Segundo ele, a presença dos grêmios estudantis e diretórios acadêmicos, ainda no final dos anos 1980, foram essenciais na organização das jornadas de 1992.
Na fala de Matheus Preis, mestrando em Sociologia sobre antiterrorismo brasileiro e militante do Movimento Passe Livre por cerca de 6 anos, pudemos entender mais sobre as conquistas e as derrotas do movimento, que agitou os protestos de rua em 2013. Entre as conquistas, está o fato do movimento ter conseguido levar a pauta para a opinião pública e ter barrado uma série de aumentos nos transportes públicos de várias cidades brasileiras. Preis também ressaltou como as Jornadas de Junho de 2013 marcaram um momento de mudança de paradigma, de fortalecimento de organizações policiais e da extrema-direita, que a partir de 2013 iniciaram uma cruzada política e midiática com consequências profundas para o Brasil, como a ascensão da extrema-direita, a Reforma Trabalhista, Teto de Gastos e um amplo projeto neoliberal de precarização do trabalho e qualidade de vida.
Traçando um paralelo entre as ocupações das escolas do Rio de Janeiro, em 2016, e a pauta Neoliberal, contamos com a fala de Graciella Fabrício da Silva, professora docente de História e Filosofia na Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro, colaboradora do site “História da Ditadura” e autora do livro Neoliberalismo, crise da educação e ocupações de escolas no Brasil. Em seu depoimento, Gaciella relembrou o início das Ocupações em março de 2016, em um ano letivo iniciado por uma greve dos docentes no estado do Rio de Janeiro. Entre as pautas nacionais daquele período, estavam o Novo Ensino Médio e o Teto de Gastos, medidas impopulares que foram bancadas por um projeto neoliberal, desta vez, no governo Michel Temer. Segundo Graciella, as duas medidas tinham em comum o resultado da acentuação da precarização do ensino público, em um momento em que o número de escolas se reduzia, enquanto o número de matrículas aumentava.
Por fim, contamos com a fala de Lilith Cristina Silva, atriz, cantora, produtora cultural e militante ativa nas Ocupações Secundaristas das Escolas de São Paulo. Em seu relato, Lilith relembrou o processo de ocupação da Escola Estadual Maria José, na Bela Vista, além da organização política em assembleias e do caráter de organização livre das Ocupações, independente da participação em alguma medida da UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas), partidos e outras organizações políticas. A atriz relembrou como a ocupação EE Maria José e a do Centro Paula Souza foram duas das mais duramente reprimidas pela ação da Polícia Militar do Estado de São Paulo, além de representarem um momento de resposta violenta e sistemática à alta organização construída pelos estudantes.
No encerramento do evento, o público online e presencial realizaram perguntas para a mesa. Aqueles que tiveram oportunidade, assistiram a um importante debate sobre a cidadania brasileira a partir da ótica dos movimentos de juventude, em três diferentes momentos do país. Todos com suas lições, vitórias concretas e simbólicas, além de resultados para grande política nacional. A mesa trouxe como importante reflexão a forma como cada movimento conseguiu ser uma experiência de cidadania, formação e organização política para muitos jovens que, hoje, são acadêmicos, políticos e líderes de organizações progressistas.
Para assistir a essa edição de Sábado Resistente, basta acessar o link: https://www.youtube.com/watch?v=W_zERIwb2Sw
A programação do Sábado Resistente retornará no mês de Agosto. Mais informações em breve.