Foto: Gabriela Beraldo
Foi apenas em 2010 que Leila Tavares Lapyda passou a se reconhecer como ex-presa política, 40 anos após ser detida no Presídio Tiradentes. Era o fim da década de 1960 e Leila era estudante de Ciências Biológicas da USP e representante do Bloco D da residência da universidade, o CRUSP, e ligada ao movimento estudantil que crescia envolta do alojamento. Com o aumento da repressão, acabou em uma lista de estudantes que tiveram a prisão preventiva decretada e, um ano e meio mais tarde, foi encarcerada e julgada. Seu processo se destaca pois, diferente de outros presos políticos, não passou pelo DEOPS ou pela Operação Bandeirantes (DOI-Codi) e foi presa após uma única audiência na Auditoria Militar.
Em dezembro de 2016, Leila entrou em contato com o Núcleo Memória ao saber dos esforços para a implementação do futuro Memorial da Luta pela Justiça no antigo prédio da Auditoria Militar de São Paulo, onde foi julgada. Ela buscava há alguns anos ter contato com o depoimento que deu no dia de seu julgamento. As pesquisadoras do Núcleo informaram então que seu processo estaria no Arquivo do Superior Tribunal Militar (STM) e a orientaram sobre como solicitar seu processo junto a este Arquivo.
Após o requerimento, Leila recebeu do Arquivo do STM um link com seu processo digitalizado, um total de treze volumes, com cerca de 300 páginas cada. Ela enfatiza que saber a data exata de sua audiência foi fundamental para que a equipe do Arquivo do STM a ajudasse na localização de seu depoimento no processo.
Relata ainda que em nenhum momento se sentiu intimidada pelo STM. “Eu acho que ligar no Superior Tribunal Militar tem uma barreira psicológica”, afirma. Mas enfatiza que foi muito bem atendida.
A historiadora Ana Paula Brito, diretora do Núcleo Memória, enfatiza a importância desse acervo da Justiça Militar para entender o período ditatorial no Brasil, e que trata-se de documentação imprescindível para o trabalho de pesquisa que tem sido desenvolvido para o Projeto do Memorial da Luta pela Justiça.
O Arquivo do STM está totalmente aberto para consulta pública, e entre o ano 2001 e junho de 2017, foram feitos atendimentos a 8.453 cidadãos brasileiros, de acordo com dados da Seção de Arquivos do STM.
Para consultas no Arquivo, é necessário preencher o formulário eletrônico via ouvidoria da instituição, disponível nesse link: https://www.stm.jus.br/ouvidoria