No último domingo (03), o parlamentar postou em sua conta do Twitter que se sentia “ainda com pena da cobra”. A declaração absurda e totalmente desrespeitosa era uma resposta à jornalista Miriam Leitão, que escreveu em seu perfil da mesma rede social que o presidente Jair Bolsonaro (PL) é “inimigo confesso da democracia”.
A cobra sobre a qual o filho do presidente faz referência é parte de um perturbador relato da própria jornalista sobre a época de luta contra a ditadura civil-militar no Brasil. Mesmo grávida de um mês, Miriam Leitão foi presa e torturada pelo regime, obrigada a ficar nua em frente a vários militares e passou horas trancada dentro de uma sala com uma jiboia. A cobra.
Não é a primeira vez que a Família Bolsonaro exalta a ditadura civil-militar e os agentes da repressão ou mostra desprezo pela democracia. Entre as manifestações de apoio pelo retorno do regime militar, tentativa de derrubada do Supremo Tribunal Federal, incontáveis declarações despropositadas, destacamos a inadmissível admiração explícita pelo declarado torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, do Doi-CODI.
A torpe fala do deputado – que posteriormente a classificou como “piada” – provocou reações adversas de partidos políticos, entidades de inúmeros setores, políticos e da imprensa em geral. Mas, provavelmente, nenhuma foi tão direta, sincera e humanizada quanto a do jornalista Jamil Chade.
Já de início, Chade lembra ao parlamentar que o ato viola “obrigações internacionais assumidas pelo Brasil e, muitas delas, ratificadas pelo Congresso do qual o senhor faz parte”. E destaca que “uma das obrigações que o estado assumiu foi dar garantias de que atos como o dos Anos de Chumbo não voltem a ocorrer”. E afirma que esse tipo de declaração do deputado abre espaço para que apareçam outros interessados a perpetuar essas violações.
O jornalista ressalta outras obrigações infringidas e defende que “há uma nova violação dos direitos humanos das vítimas” cada vez que Eduardo ou Jair Bolsonaro se manifestam. Por isso, faz questão de repetir alguns dos Princípios para a Proteção e Promoção dos Direitos Humanos.
Depois de alguns parágrafos onde quase é possível ouvir a voz do jornalista e compartilha-se o desejo por reparação e o espírito de luta pela democracia, Chade encerra deixando o recado a Eduardo e Jair Bolsonaro de que “a história não os perdoará. E nem a Justiça”. Nós também não.
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