(+55) (11) 2306-4801
NÚCLEO MEMÓRIA

Direitos humanos |   Comitê da ONU pede revisão da Lei de Anistia e tipificação do crime de ódio

Foto: Ennco Beanns/Arquivo Público do Estado de São Paulo Fonte: Agência Senado

Reproduzimos aqui matéria publicada no Painel da Folha de SP e reiteramos: o Núcleo Memória, entre outras entidades da sociedade civil, endossa o pedido contra a revisão e a favor reinterpretação da Lei de Anistia. 

(Originalmente publicada em Folha de SP)

Relatório do Comitê de Direitos Humanos da ONU sobre o Brasil, divulgado nesta quarta-feira (26), pede a revisão da Lei da Anistia, defende a criação de um tipo penal específico para crimes de ódio e de um órgão nacional independente para cuidar dos direitos humanos.

As recomendações fazem parte da resposta da instância das Nações Unidas à sabatina à qual o Brasil foi submetido nos dias 26 e 27 de junho, em Genebra. Foi a primeira revisão periódica do país em dez anos.

Em um relatório de 14 páginas, o comitê da ONU fez também elogios a medidas aprovadas pelo Brasil. Citou, entre outras, o estabelecimento de cotas para descendentes de africanos em órgãos federais, a criação dos ministérios dos Povos Indígenas e da Igualdade Racial, o lançamento de um programa para garantir direitos dos presos e a aprovação de uma lei para combater violência política contra mulheres.

A maior parte do documento, no entanto, registra preocupações com o desempenho do Brasil com relação aos direitos humanos em várias áreas e sugere medidas.

No trecho sobre a ditadura militar, o comitê da ONU registra preocupação com a falta de implementação de recomendações da Comissão da Verdade, incluindo o reparação adequada para as vítimas e responsabilização de autores [de violações]. O documento recomenda a revisão da Lei da Anistia, de 1979.

Ao tratar dos chamados crimes de ódio, a instância da ONU recomenda que o Brasil considere rever sua legislação para introduzir uma definição separada para o tema, que criminalize explicitamente atos de ódio em todas as instâncias, intensificando esforços para combater intolerância, preconceito, viés racial e discriminação.

O órgão pede também a criação de uma instituição nacional independente de direitos humanos, para monitorar a implementação de medidas.

Sugere ainda medidas para reduzir a letalidade policial, com a instalação de câmeras em fardas, além de ações para proteger minorias e medidas contra a corrupção.

O comitê pede a imediata finalização de todos os procedimentos judiciais relacionados à operação Lava Jato, para que julgamentos finais ocorram no tempo adequado.

Para Camila Asano, diretora-executiva da Conectas Direitos Humanos, o comitê manda uma mensagem forte em uma semana marcada por desdobramentos no caso Marielle Franco.

As diversas formas de violência política, especialmente contra mulheres negras, pessoas LGBTQIA+ e indígenas, precisam ser enfrentadas para garantir a participação popular desses grupos nos espaços de decisão, afirmou. 

Segundo ela, o comitê fez outras recomendações relevantes ao Brasil que, de modo geral, apontam para a necessidade de avançar em políticas públicas de enfrentamento ao racismo.

Os especialistas da ONU pedem para o país o combater a discriminação racial praticada pelas forças de segurança pública, avançar na indenização de vítimas do Estado, dar agilidade à demarcação e titulação de terras indígenas e quilombolas, evitar legislações que utilizem definições vagas de terrorismo e considerar a ratificação da Convenção Internacional sobre a Proteção dos Direitos de Todos os Trabalhadores Migrantes e Membros de Suas Famílias, afirma.


icone do whatsapp, quando clicar ira iniciar o atendimento por whatsapp