O Sábado Resistente do mês de novembro ocorreu no dia 09 e faz parte de uma série de debates mensais voltados para reflexões sobre a ditadura militar e seus desdobramentos contemporâneos, especialmente em questões sociais e políticas atuais. Nesta edição, que marca o mês da Consciência Negra, discutimos como é possível fazer uma comunicação que quebre o silêncio histórico e revele seu impacto na perpetuação do racismo e das desigualdades no Brasil. A advogada criminalista Lígia de Souza Cerqueira apresentou os convidados desta edição: Anderson Moraes, jornalista e fundador do Jornal Empoderado, e Kyalene Mesquita, comunicadora social engajada em políticas de drogas e no antiproibicionismo.
Kyalene Mesquita abordou a importância de uma comunicação responsável e antirracista, destacando como a “guerra às drogas” contribui para a perpetuação do racismo. Ela enfatizou que o acesso à informação sobre os danos causados por essa política e seu viés racial é limitado pela maneira como a mídia privada trata o tema. Segundo Kyalene, mesmo que atualmente haja um reconhecimento maior do racismo estrutural, os dados continuam difíceis de serem transmitidos ao público de forma acessível e compreensível. Isso cria um distanciamento, dificultando que as pessoas compreendam como o racismo afeta toda a sociedade, não apenas as comunidades diretamente impactadas. Ela citou a campanha Você também é vítima como um esforço para mostrar que o racismo nas políticas de segurança pública impacta toda a sociedade, e não apenas uma parcela dela.
Anderson Moraes também trouxe um olhar crítico para a estrutura da comunicação no Brasil, destacando o domínio de grandes grupos familiares sobre as principais redes de mídia. Ele mencionou que, embora existam alternativas como mídias progressistas e canais comunitários, o alcance desses veículos é limitado em comparação com a mídia de massa. Anderson apontou a extrema-direita como um exemplo de como a comunicação tem sido usada para manipular a opinião pública, principalmente nas redes sociais, onde a disseminação de desinformação e discursos de ódio é comum. Ele defendeu que “a democratização da mídia passa pela necessidade de regulamentação das plataformas e pela criação de políticas públicas que incentivem o fortalecimento de mídias independentes e alternativas”. Para ele, somente assim será possível alcançar um público mais amplo com conteúdos que promovam justiça social e igualdade racial.
O debate também explorou como o racismo aparece nas escolhas de palavras e na narrativa da mídia sobre diferentes grupos raciais. Kyalene e Anderson discutiram casos em que a mídia trata de forma desigual pessoas brancas e negras em situações semelhantes. Kyalene deu o exemplo de como um jovem negro pode ser tratado como criminoso em uma notícia, enquanto uma pessoa branca envolvida em atividades ilegais pode ser retratada de maneira mais positiva. Ambos criticaram a falta de diversidade nas redações e o impacto disso na forma como as histórias são contadas. Anderson mencionou: “Quantas pessoas negras você vê apresentando os principais jornais ou ocupando cargos de destaque nas redações? A maioria das decisões ainda é tomada por uma elite branca, e isso se reflete nas matérias que lemos todos os dias”.
Outro ponto forte foi o impacto das concessões de mídia durante e após a ditadura militar. Um dos participantes relacionou a concessão de canais de TV e rádios a famílias e grupos específicos como um legado que perpetua a concentração de poder na comunicação brasileira, inibindo a criação de narrativas mais diversas e representativas. Eles sugeriram que é necessário um esforço institucional para que haja uma regulamentação mais justa e que o espaço midiático seja acessível a vozes alternativas e representativas de diferentes grupos sociais.
Essas discussões refletiram a necessidade urgente de políticas públicas que promovam uma comunicação antirracista e a importância de reformar as estruturas de mídia para garantir que elas atendam aos interesses de toda a população, e não apenas de uma elite. Esses debates são oportunidades para refletirmos coletivamente e buscarmos mudanças efetivas.
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