O Núcleo Memória deu início, no dia 8 de outubro, ao curso anual Lugares de Memória e Direitos Humanos no Brasil. Esta atividade formativa, oferecida desde 2013, visa aprofundar a discussão sobre a Ditadura Civil-Militar (1964–1985) e os desafios políticos atuais, promovendo uma reflexão sobre a importância pedagógica dos lugares de memória e o avanço de pautas sociais. O curso contará com sete encontros presenciais no Auditório do Sesc Vila Mariana, além de uma visita mediada ao antigo DOI-Codi/SP, um local pouco conhecido pelo público e tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat) em janeiro de 2014.
A aula inaugural foi ministrada pelo professor Carlos Fico, doutor e Professor Titular de História do Brasil da UFRJ, além de pesquisador do CNPq. Durante sua apresentação, Fico abordou a relevância do golpe de Estado de 1964, inserindo-o em uma longa tradição de intervencionismo militar na história republicana brasileira. Ele ressaltou a importância de compreender esse evento em relação a padrões recorrentes presentes nos pronunciamentos e tentativas de golpes ao longo da história do Brasil. O professor também discutiu diversas teses historiográficas que buscam explicar o golpe, além de elencar algumas controvérsias que cercam o processo político da época. Ao contextualizar o golpe dentro de uma trajetória histórica mais ampla, ofereceu uma análise crítica fundamental para entender os desafios atuais relacionados aos direitos humanos e à democracia no Brasil.
A segunda aula, realizada no dia 15 de outubro, foi conduzida por Maurice Politi, ex-preso político e um dos fundadores do Núcleo Memória, atualmente atuando como seu diretor executivo. A aula versou sobre a estruturação e operação do aparato repressivo durante os anos da ditadura civil-militar, traçando uma linha do tempo que começou em 1961 e culminou com o golpe de 31 de março de 1964. Além desse aspecto histórico, Maurice detalhou como funcionaram e qual era a estrutura de comando dos vários órgãos de informação e repressão que se constituíram após 1964, complementando seu relato com suas próprias vivências e seu compromisso com a preservação da memória.
Em ambas as aulas, foi reservado um período de 60 minutos ao final para que os alunos pudessem fazer perguntas, propiciando debates enriquecedores. Além de Carlos Fico e Maurice Politi, que já ministraram suas aulas, o curso conta com um corpo docente diversificado, formado por especialistas nas áreas de história, direitos humanos, políticas de memória, direito e museologia. As próximas aulas, sempre às terças-feiras, contarão com a participação de César Novelli Rodrigues, Flávio de Leão Bastos Pereira, Júlia Cerqueira Gumieri, Oswaldo de Oliveira Santos Júnior, Renan Quinalha e Renan Ribeiro Beltrame. Essa equipe multidisciplinar enriquece o curso com suas perspectivas diferenciadas, permitindo que os alunos reflitam criticamente sobre o passado e sua relação com o presente. A discussão sobre a Ditadura Civil-Militar e suas repercussões nos aspectos relacionados com os Direitos Humanos é importante, pois permite uma reflexão mais profunda sobre as violências de Estado e a necessidade de preservar a memória, capacitando os participantes a se tornarem agentes de transformação social e promovendo um compromisso com a justiça e a verdade.