No mês de outubro, o Núcleo de Preservação da Memória Política (Núcleo Memória) realizou mais uma Coleta de Testemunho para o Projeto de História Oral do Memorial da Luta pela Justiça, desta vez com a participação de Frei Betto. A entrevista aconteceu no Convento da Ordem dos Dominicanos, em São Paulo, um local emblemático de resistência durante a ditadura civil-militar.
Carlos Alberto Libânio Christo, conhecido como Frei Betto, nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais, e iniciou sua militância política inspirado pelos pais, ambos progressistas e grandes apreciadores da literatura. Em sua casa, que era praticamente uma biblioteca, os livros ocupavam todos os espaços, como Frei Betto relembrou na entrevista.
Jornalista, escritor, frade dominicano e educador popular, Frei Betto participou ativamente da resistência ao regime antes e depois do golpe de 1964, por meio das organizações Juventude Estudantil Católica (JEC), Ação Católica (AC) e Ação Libertadora Nacional (ALN).
Em 1965, ingressou na Ordem dos Dominicanos e, em São Paulo, envolveu-se no apoio aos perseguidos políticos no Convento da congregação. Sua escolha pela ALN, em 1967, foi influenciada pela liderança de Carlos Marighella, cuja atuação e pensamento ele admirava. Como membro do grupo de apoio da organização, Frei Betto foi preso em novembro de 1969, no Rio Grande do Sul.
Ao longo de sua trajetória, passou por sete momento de reclusão, em locais como o Presídio Tiradentes, Penitenciária do Estado de São Paulo, Carandiru, Penitenciária Regional de Presidente Venceslau, DEOPS/SP, DOPS/RS e Quartel da Cavalaria da Polícia Militar. Durante o cárcere, que durou até 1973, Frei Betto escreveu algumas de suas obras mais conhecidas, incluindo Cartas da Prisão, Batismo de Sangue, Diário de Fernando, O Dia de Ângelo e Tom Vermelho do Verde.
O Projeto de História Oral do Memorial da Luta pela Justiça, iniciado em 2017, já registrou o testemunho de 70 pessoas, entre advogados e réus das Auditorias Militares de São Paulo durante a ditadura civil-militar, além de representantes de entidades sociais que resistiram e lutaram por justiça. O projeto seguirá nos próximos meses.
Participaram desta Coleta de Testemunho o historiador e pesquisador do Núcleo Memória, César Novelli Rodrigues; o jornalista e pesquisador voluntário Danilo Zelic; e as historiadoras e pesquisadoras Natália Barud e Victória Silva, ambas ligadas ao Núcleo Memória.