Memória em Ação
janeiro - fevereiro/24

EDITORIAL

Depois de um período de recesso, estamos de volta com nosso Boletim, desejando, mesmo tardiamente, a todos que acompanham os trabalhos do Núcleo Memória, um ótimo ano de 2024.

Não podemos deixar de começar este editorial sem nos referirmos o quão importante este ano significa para as lutas por Memória, Verdade, Justiça e Reparação. Há 60 anos atrás, o país foi atravessado por um golpe civil-militar, que iniciou uma ditadura de 21 anos, e que deixou cicatrizes abertas que não fecharam até os dias de hoje. É compromisso desta entidade e de seus membros a luta pela preservação da memória resistente daqueles dias, assim como estabelecer pontes entre aquele passado e o presente, contribuindo para a construção coletiva de um futuro melhor.

Desta forma, o Núcleo Memória continuará trabalhando em diversas frentes, tais como os Sábados Resistentes, o programa de Visitas Mediadas ao antigo DOI-Codi/SP, o curso Lugares de Memória e Direitos Humanos no Brasil, a pesquisa de conteúdo para o Memorial da Luta pela Justiça, a participação em redes de lugares de memória como a RESLAC e a Rebralum entre outros, além do Grupo de Trabalho DOI-Codi.

Para o mês de março, o Núcleo Memória vem trabalhando na coordenação da IV Caminhada do Silêncio, evento que consta no calendário oficial da cidade de São Paulo e que neste ano será realizada no dia 31 de março, quando o golpe completará 60 anos. A intenção dessa “descomemoração” é congregar pessoas, entidades e coletivos que lutam historicamente por Memória, Verdade e Justiça, bem como toda a sociedade, para que juntos possamos homenagear os mortos e desaparecidos e lutar para que nunca mais aconteça uma ditadura em nosso país.
Outra ação de memória que o NM iniciou, em fevereiro deste ano, é a série “Aconteceu na Ditadura”, que visa compartilhar informações com as gerações mais jovens, em nossas redes sociais, sobre acontecimentos históricos do período da ditadura. Esta ação será realizada ao longo de 2024.

No campo político, pudemos observar a ponte presente-passado quando tivemos acesso aos detalhes da operação “Hora da Verdade”, deflagrada no início de fevereiro pela Polícia Federal, com o indiciamento e prisão de várias autoridades que figuram como parte do núcleo ativo de uma tentativa de Golpe que teve seu auge nos acontecimentos ocorridos em Brasília, no dia 8 de janeiro. O não acerto de contas com o passado, anistiando quem matou e torturou entre 1964 e 1985, faz com que tentativas de golpe de Estado ainda aconteçam.

O envolvimento pessoal do ex-presidente Bolsonaro, assim como de alguns integrantes de seu ministério e da cúpula das Forças Armadas, evidenciado nas provas obtidas pela Polícia Federal, assim como na delação premiada de seu ajudante de ordens, Mauro Cid, leva-nos a indagar que evidências ainda são necessárias para a decretação da prisão do ex-presidente, mesmo sabendo de antemão que sua prisão traria como uma das consequências a sua transformação num “mártir” pelos seus seguidores.

Mesmo assim, somos da opinião que o trabalho da Polícia Federal, assim como os devidos processos conduzidos pelo STF, deve seguir seu curso dentro da legalidade até o desbaratamento total não só da quadrilha golpista que pôs em questão, através de Fake News, os resultados eleitorais, como também subverteu a própria estrutura institucional e hierárquica das Forças Armadas, pregando a rebelião de subalternos versus seus comandantes.

Apesar das evidências das provas colhidas, de acordo com as pesquisas Atlas Intel 42% das pessoas entrevistadas são contrárias à prisão do capitão e mais de 20% não acreditam que houve uma tentativa de Golpe. Foi reforçado por estas pesquisas que o pastor Malafaia, o próprio Bolsonaro e alguns governadores convocaram no dia 25 de fevereiro uma manifestação de apoio ao ex-presidente com a presença de mais de 150.000 pessoas, segundo estimativa de um laboratório da USP. Nesta oportunidade, o ex-presidente, mudando o tom de seu discurso habitual, pregou a convivência fraterna, o esquecimento do passado e se atreveu a propor uma anistia para todos os envolvidos, inclusive ele mesmo.

Desnecessário dizer que somos contrários a qualquer tipo de anistia aos que arquitetaram o Golpe de Estado, assim como a seus comparsas que serviram de “carne de canhão” nos desmandos do dia 8 de janeiro. Sem anistia para golpistas!

Vale ressaltar, também, nosso posicionamento contra as falas do Presidente Lula, que em entrevista à RedeTV disse que não quer "remoer o passado", a respeito do golpe militar de 1964. O Núcleo, entre mais de 150 entidades, assinou o texto da Coalizão Brasil por Memória e Justiça intitulado FALAR SOBRE 64 NÃO É REMOER O PASSADO, É DISCUTIR O FUTURO. Você pode ler o texto clicando aqui.

Por isso, é na luta por valores democráticos fortalecidos e perenes que nos posicionamos, desde o ano de fundação do Núcleo Memória, em 2009. Justamente por respeito aos seus integrantes, seus associad@s e amig@s é que, neste ano em que comemoramos nosso 15º ano de existência, fazemos um apelo a todos os nossos leitores e leitoras para o contínuo apoio às nossas atividades educativas-culturais.

Não podemos ignorar o conflito em curso entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza, que já resultou em milhares de vítimas civis, incluindo mulheres e crianças. A urgência de um cessar-fogo é evidente para preservar vidas, e é imperativo buscar ativamente a criação do Estado Palestino como parte fundamental para alcançar uma paz duradoura na região.

Finalmente, não podemos encerrar este editorial sem nos referirmos à companheira Elza Ferreira Lobo, fundadora de nossa entidade, que nos deixou no último dia 24 de fevereiro. Elza permanecerá sempre em nossos pensamentos como um exemplo de amizade, solidariedade e militância em prol de uma sociedade mais justa.
Elza Presente! Agora e Sempre!

Boa Leitura!


ATIVIDADES EDUCATIVAS-CULTURAIS

Núcleo Memória realiza visita de jornalista polonês ao antigo DOI-Codi

 

No dia 30 de janeiro, o Núcleo Memória recebeu a visita do jornalista polonês Artur Domoslawski nas dependências do antigo DOI-Codi, centro de torturas mais conhecido durante o regime militar. O prédio, tombado pelas autoridades do Estado desde 2014, é um símbolo desse período sombrio da história brasileira. Leia mais…

Núcleo participa do lançamento do programa Reconexões no Museu Lasar Segall

 

No dia 18 de janeiro, os diretores do Núcleo, Katia Felipini e Maurice Politi, marcaram presença no Museu Lasar Segall para o evento de divulgação do lançamento do programa Reconexões do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) e do futuro Museu da Democracia.

A Ministra da Cultura, Margareth Menezes, a presidente do IBRAM, Fernanda Castro, a presidente do Icom-Brasil e servidora do IBRAM, Vera Mangas, a Diretora do Sisem (Sistema Estadual de Museus), Renata Cittadin, e a coordenadora do GT Doi-CODI, Déborah Neves, também estiveram presentes.

 

Visita mediada leva público ao antigo DOI-Codi de São Paulo

 

No último dia 21 de fevereiro, o Núcleo Memória realizou a primeira visita mediada de 2024 ao espaço da antiga DOI-Codi do II Exército em São Paulo.  Na ocasião, o grupo de 22 pessoas pôde conhecer mais sobre o centro de repressão, que mais vitimou durante a ditadura militar, e há 10 anos é considerado patrimônio cultural do Estado de São Paulo. Leia mais…

 

Especial Aconteceu na Ditadura

 

Em memória aos 60 anos do golpe de 1964, preparamos uma série de posts sobre as repressões e resistências desse período histórico. O especial “Aconteceu na Ditadura” relatará, dia após dia, alguns dos principais eventos que marcaram os anos entre 1964 e 1985.

É importante destacar que este projeto aborda um recorte específico e não tem a intenção de abranger todos os eventos dessas duas décadas repletas de acontecimentos políticos.

Para acompanhar, basta acessar o site do Núcleo Memória ou nos seguir nas redes sociais!

 
MEMORIAL DA LUTA PELA JUSTIÇA

Visita técnica da pesquisa no Museu do Ipiranga

 

No dia 23 de fevereiro, a equipe de pesquisa em história e educação, responsável pelo planejamento da futura exposição e das ações educativas do Memorial da Luta pela Justiça, esteve presente numa visita técnica com Isabela R. Arruda, do setor de educação, no Museu do Ipiranga. Leia mais…

PRÓXIMOS EVENTOS

 

Programa de visita mediada ao DOI-Codi
Datas 2024:
21/02 (quarta-feira, 14h)
20/03 (quarta-feira, 10h)
17/04 (quarta-feira, 10h)
18/05 (sábado, 10h)
19/06 (quarta-feira, 10h)
17/07 (quarta-feira, 10h)
21/08 (quarta-feira, 10h)
21/09 (sábado, 10h)
16/10 (quarta-feira, 10h)
13/11 (quarta-feira, 10h)
14/12 (sábado, 10h)
Local: Rua Tutóia 921

Sábado Resistente: Os antecedentes e desdobramentos do Golpe Civil-Militar de 1964
Dia 23/03, 14h
Local: Memorial da Resistência

4ª Caminhada do Silêncio
Dia 31/03, 15h
Local: Concentração no antigo DOI-Codi, Rua Tutóia 921

 
 
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