Boletim - Núcleo Memória

	Memória em Ação
agosto/23

EDITORIAL

Este mês vimos acentuar os índices de violência policial em muitos Estados do Brasil. Até o dia 28, a continuação da operação Escudo no litoral de São Paulo atingiu a incrível marca de 24 mortes entre os moradores do Guarujá e arredores, tornando-se a operação mais letal da PM paulista em mais de 30 anos. Episódios de violência também ocorreram no Rio de Janeiro, quando pelo menos dois menores foram assassinados a sangue frio pela polícia carioca e na Bahia, onde a escalada da violência tornou o estado o líder no ranking com 22% do total de mortes pela polícia em todo o país, contabilizando 32 mortos em ações policiais nas últimas três semanas.

Essa escalada de violência teve seu ápice no assassinato de Mãe Maria Bernadette Pacífico, que com 72 anos de idade foi morta com 12 tiros dentro de seu próprio terreiro no último dia 17 de agosto. Líder da comunidade quilombola Pitanga dos Palmares e da CONAQ (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas), Mãe Bernadete fez tudo que estava a seu alcance para defender a integridade territorial do quilombo que abriga 300 famílias na região metropolitana de Salvador, sem jamais ter abandonado a busca por justiça pelo assassinato de seu filho ocorrido em 2017.

A sua morte provocou uma indignação geral, tendo a comunidade negra realizado marchas e manifestações em todo o país no dia 24 deste mês, além do encaminhamento ao governo de um documento com mais de 1.800 assinaturas reivindicando justiça, fim da violência policial, liberdade religiosa e adoção de políticas de combate ao racismo.

No campo da economia, a grande notícia do mês foi a obtenção de um índice de desenvolvimento relativo ao segundo trimestre do ano que superou todas as previsões. De um crescimento esperado de 0,3% no PIB deste trimestre, se atingiu um resultado equivalente a 0,9%. Este número leva a uma previsão de crescimento de 3% no PIB para o país para todo o ano de 2023.

No entanto, apesar da revelação deste índice mostrar os primeiros efeitos de uma nova e exitosa política econômica, o país ainda se vê às voltas com indefinições no campo das reformas econômicas, devido à contínua pressão de setores políticos aliados ao chamado "centrão" para obtenção de cargos ministeriais, tática que visa obter mais facilmente aprovações de leis essenciais para o ordenamento econômico.

No que diz respeito à reconstrução das relações internacionais do Brasil, uma nota digna de menção foi a marcante presença presidencial na 15ª Cúpula dos BRICS que, levada a efeito na África do Sul, se tornou um evento histórico de grande magnitude, já que foi decidido a ampliação do bloco com a entrada de Arábia Saudita, Emirados Árabes, Argentina, Egito, Irã e Etiópia como novos membros. O fato converteu os membros dos BRICS em uma entidade economicamente mais relevante do que o próprio G7.

Finalmente, não podemos deixar de mencionar a data de 30 de agosto, Dia Internacional dos Desaparecidos, que foi marcado por vários eventos organizados, seja pelo Ministério de Direitos Humanos e Cidadania como também por entidades da sociedade civil que trabalham pró-Memória, Verdade e Justiça. A dor da ausência e a angústia em razão da incerteza sobre o paradeiro de um familiar ocasiona perdas e feridas profundas.

O Núcleo Memória expressa a sua solidariedade e apreço à luta levada a efeito pelos familiares dos desaparecidos – tantos os do Passado como os do Presente – e faz eco aos que exigem do governo a reconstituição da CEMDP (Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos), assim como a reparação devida a todos os que tiveram seus Direitos violados pelo Estado.

Boa Leitura!

ATIVIDADES EDUCATIVO CULTURAIS

Sábado Resistente debate necropolítica e genocídios

O Núcleo de Preservação da Memória Política, juntamente com o Memorial da Resistência de São Paulo, realizou mais uma edição do Sábado Resistente, que ocorreu no dia 19 de agosto às 14h. O debate no referido dia teve como o objetivo aprofundar a compreensão da necropolítica, abordando sua relação com casos de violência policial contra a população negra e periférica, bem como os povos indígenas. Você pode assistir o debate aqui.