Memória em Ação
Boletim Junho/22

EDITORIAL

O mês de junho foi pródigo em notícias escabrosas para o país e, fazer um resumo delas, num editorial que tem que obrigatoriamente ser uma breve análise de conjuntura, tem um grau razoável de dificuldade.

Começando pela situação geral da desigualdade social no país, o Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social (IMDS) deu a conhecer, em 25 de junho, no seu levantamento anual, que no que diz respeito à renda das famílias, 47,3 milhões de brasileiros terminaram o ano de 2021 na pobreza. Este número equivale à assombrosa cifra de 22,3% da população brasileira, o maior percentual em dez anos. Considerando só o ano de 2021, quase 11 milhões de pessoas caíram ao nível de pobreza, equivalente a dizer como se todos os moradores da cidade de São Paulo se tornassem pobres em um ano.

O Fórum Brasileiro de Segurança Pública, no fim deste mês, também apresentou o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2021.  De acordo com os dados divulgados, embora se tenha notado uma queda nas mortes violentas intencionais de 6,5% no total de vítimas, observa-se que dos assassinatos ocorridos no país 78% são de pessoas negras e, dentro desta porcentagem, 50% são da faixa etária entre 12 e 29 anos.  Isso evidencia o que temos observado, mais nitidamente nos últimos anos, que é o foco racista em geral, tanto nas ações policiais como nas de caráter privado.

O anuário também aponta os números de violência sexual: dos 66.020 estupros em 2021, 75,5% eram vulneráveis, incapazes de consentir, sendo que os casos de violência contra pessoas LGTBQIA+ também registrou expressivo aumento. Exemplos recentes como o renovado discurso antiaborto legal, no caso de uma menina de 11 anos de Santa Catarina, mostra bem o caráter de estímulo a esta violência sexual que se espalha com discursos moralistas e contrários à saúde da mulher.

Finalmente, um dado apresentado que preocupa muito foi o crescimento de 473,6% nos registros ativos de caçadores, atiradores e colecionadores (CAC) entre os anos de 2018 e 2022, mostrando que hoje existem mais armas em mãos de privados do que entre as forças de segurança do Estado (4,4 milhões em estoques particulares versus um número aproximado de 3,2 milhões em mãos das forças armadas e policiais nos Estados).

O estímulo do Estado à violência evidenciada nestes dados se viu reforçado com a aprovação do PL 733/2022 na Comissão de Segurança Pública da Câmara, de autoria do famigerado deputado Daniel Silveira, que inclui as Forças Armadas entre os órgãos de segurança que podem ser agraciados com uma ampliação do chamado “excludente de ilicitude”, criando a figura jurídica de “circunstância exculpante”, novo nome para IMPUNIDADE.

Uma nota positiva, dentre todas estas notícias ruins, foi o importante papel que a imprensa teve neste mês ao revelar três casos de profundo impacto da falta de compromisso com os Direitos Humanos deste governo.

Primeiramente, o caso do abandono dos indígenas e indigenistas, quando das investigações pelas horríveis mortes do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Philips, com a evidência de um profundo descaso justamente pelo órgão federal que deveria defendê-los (FUNAI) e a ausência de qualquer política pública na Amazônia.

Posteriormente, a revelação do alto nível de corrupção no Ministério da Educação, com a benção declarada do presidente Bolsonaro, prejudicando milhões de alunos, suas famílias e a sociedade como um todo. O ex-ministro Milton Ribeiro e os pastores amigos se safaram rapidamente da prisão, por obra de um desembargador com planos de ascensão na carreira que, ainda assim, reconheceu que a investigação policial aponta para “fatos gravíssimos”.

E, finalmente, os gravíssimos casos de assédios (sexual e moral) por parte dos altos dirigentes da Caixa Econômica Federal. Embora seu presidente tenha sido afastado em menos de 24 horas depois de conhecidas as denúncias, este fato mostrou à população o caráter cínico e vil dos discursos a favor da família e da moral, ainda mais tendo o presidente Bolsonaro se eximido de condenar publicamente o caráter cafajeste de seu amigo Pedro Guimarães.

Estas manifestações do jornalismo investigativo, que mesmo em condições adversas trazem revelações como estas, só pode nos afiançar de que, embora a mera realização de eleições não garanta uma democracia funcional, elas podem ser alimentadas com notícias impactantes que colocam em xeque as “Fake News” e as desmontam.  Para todas as brasileiras e brasileiros, que viveram quase três décadas sem eleições diretas durante uma brutal ditadura civil-militar, o ciclo eleitoral ganha ainda maior relevância pois, por meio dele, acionamos o poder popular de endossar ou rejeitar um projeto político para o país onde queremos viver.

E é isso que nos alenta a prosseguir no nosso trabalho cotidiano em favor dos princípios democráticos e pelo resgate dos terríveis tempos vividos há meio século, que não queremos ver se repetir. Todo o trabalho do Núcleo Memória, nas suas pesquisas para constituição do acervo do Memorial da Luta pela Justiça assim como as suas ações educativas e culturais visam a estes objetivos: o apelo à cidadania ativa, o combate à desigualdade social e a participação nos rumos de uma sociedade mais tolerante e democrática.

Exemplos destas nossas atividades estão neste Boletim.

Boa Leitura!

 

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ATIVIDADES CULTURAIS

SÁBADOS RESISTENTES | Os Jovens Resistem: Caras Pintadas, Movimento Passe Livre e as Ocupações das Escolas

 

No último sábado (25) do mês de junho, foi realizado o quarto Sábado Resistente do ano no Auditório Vitae (5º andar do Memorial da Resistência), em uma parceria entre o Núcleo Memória e o Memorial da Resistência. A atividade, que ocorreu de forma híbrida com transmissão através dos canais no Youtube do Núcleo Memória, do Memorial da Resistência e Tutaméia, teve abertura às 14h15, realizada por Ana Pato, coordenadora do Memorial da Resistência, e Maurice Politi, diretor administrativo do Núcleo Memória.
Para assistir a essa edição de Sábado Resistente, clique aqui.
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Retomada das Visitas Mediadas ao ex Doi-Codi

 

Na quarta-feira (15) de junho, o Núcleo Memória retomou a programação de visitas mediadas mensais nas dependências do antigo DOI-Codi, na Rua Tutóia, 921. Nesta ocasião, um grupo de 12 pessoas, inscritas previamente através de formulário no site do Núcleo, esteve presente, entre elas, dois ex-presos políticos, pesquisadores e estudantes. A visita contou com a mediação de Maurice Politi, diretor administrativo do Núcleo Memória e ex-preso político.
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Visita Mediada ao ex Doi-Codi recebe 130 alunos

 

Na última quinta-feira (23) do mês de junho, o Núcleo Memória realizou sua segunda visita do ano ao antigo DOI-Codi, um dos principais centros clandestinos de detenção e tortura do Brasil durante a Ditadura Civil-Militar. Desta vez, a visita contou com a presença de cerca de 130 alunos, do 2º e 3º ano do ensino médio, vindos da Escola Estadual Maria do Carmo, de Vinhedo (SP). Junto aos alunos estava o corpo docente da escola, com as professoras Cristiane, Elaine, Caroline e Ana Rafaela, e os professores Fábio e Valdeci, todas/os docentes da área de Ciências Humanas do colégio.
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NÚCLEO MEMÓRIA PARTICIPA

Maurice Politi participa da Roda de Conversa promovida pelo Núcleo de Ação Educativa do Memorial da Resistência de São Paulo

 

No dia 22 de junho, o Núcleo de Ação Educativa do Memorial da Resistência de São Paulo convidou o diretor administrativo do Núcleo Memória, Maurice Politi, para uma nova Roda de Conversa com visitantes da Instituição.
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Núcleo Memória participa de formação promovida pela Escuela Iberoamericana de Mediación en Sitios y Museos de Memoria.

 

O historiador e pesquisador César Novelli Rodrigues e a museóloga e diretora de Ações Museológicas Katia Felipini, ambos do Núcleo Memória, participaram da formação “Buenas Prácticas y Estrategias Metodológicas”, organizada pela Escuela Iberoamericana de Mediación en Sitios y Museos de Memoria, em sua segunda edição, que ocorreu nos dias 23 e 30 de maio e 6 e 13 de junho.
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MEMORIAL DA LUTA PELA JUSTIÇA

Coleta de Testemunhos – Projeto de História Oral

 

O projeto de História Oral do Memorial da Luta pela Justiça (MLPJ), realizado pelo Núcleo Memória (NM), coletou no mês de junho o testemunho de quatro ex-trabalhadores vitimados pela perseguição no período da Ditadura Civil-Militar: Geovaldo Gomes dos Santos, Paulo Sérgio Ribeiro Alves, João Bosco e Enilson Simões de Moura (o Alemão). Todos os entrevistados são da Associação Heinrich Plagge, entidade que representa os ex-trabalhadores da Volkswagen que sofreram perseguições políticas e ideológicas durante o regime militar (1964-1985) e que tiveram suas vidas marcadas para sempre.
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