No dia 03 de dezembro, das 20h às 22h, assistimos a mais uma brilhante apresentação sobre um projeto em desenvolvimento em um lugar de memória: o Memorial de Direitos Humanos de Minas Gerais para o prédio do antigo Departamento de Ordem Política e Social de Minas Gerais, coroando com louvor a nona live, última do ano de 2020. O projeto Ciclos de Live “Conhecendo Lugares de Memória” é realizado pelo Núcleo Memória com a participação de membros da Rede Brasileira de Lugares de Memória (Rebralume).
Ana Carolina Rezende (Mestre em Direito e Referência Técnica da Secretaria de Desenvolvimento Social de Minas Gerais - SEDESE) iniciou sua apresentação falando sobre a importância da Rebralume como uma rede de apoio e troca de expertise. Sobre o projeto Memorial de Direitos Humanos, disse que ele está vinculado a SEDESE por meio da Subsecretaria de Direitos Humanos e apresentou com um breve histórico uma linha do tempo: o Memorial foi criado por meio da Lei 13.448/2000, mas somente em 2018 obteve a destinação final do local; que o prédio, construído em 1958, embora tenha sido tombado pelas instâncias municipal e estadual para abrigar o Memorial, foi ocupado por 60 anos por equipamento público de segurança e somente em 2018 teve a formalização da destinação final. Ana Carolina também apresentou os espaços dos quatro pavimentos do edifício. Outra informação importante foi a de que ali também foi sede do DOI-Codi a partir de 1970, o que entendemos ser bastante incomum raro estes dois equipamentos dividirem o mesmo local.
Pauline Araújo (Museóloga e Assessora Técnica da Secretaria de Desenvolvimento Social de Minas Gerais - SEDESE) apresentou o histórico do DOPS-MG (1956-1989) e dos outros equipamentos de segurança, como por exemplo o Departamento de Operações Especiais (DEOESP), que continuou no prédio mesmo após a extinção do DOPS. Em 1997, a CPI do Cárcere apurou que práticas de tortura continuaram acontecendo, incluindo a utilização do pau de arara, mesmo num contexto em que, desde 1989, havia demandas sociais para criar um lugar de memória. Ou seja, são trinta anos de demandas e muitas pessoas participaram. Um espaço simbólico, tombado pelas instâncias municipal (2013) e estadual (2015) com recorrentes atos e manifestações. Apesar disso, só em 2016 a carceragem deixa de funcionar e em 2018 é formalizada a posse do edifício para o Memorial de Direitos Humanos. Foi apresentado, também, um vídeo promocional do projeto de implementação.
Andrés Zarankin (Professor Titular do Departamento de Antropologia e Arqueologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG) falou sobre o projeto “Pesquisas interdisciplinares para subsidiar a musealização do antigo DOPS-MG: leituras da repressão e da resistência”, firmado entre a UFMG e a SEDESE. Foi a primeira vez que a arqueologia escava no prédio. Andrés vê a Arqueologia como materialidade e como ação política, pelo potencial da materialidade em reconstruir a história que estava esquecida: corpos dos desaparecidos, fotos, lugares de memória dentre outros testemunhos. Também relatou que trabalharam com alunos da Universidade, em meio à pandemia, e com orçamento limitado. Na escavação, encontraram vários materiais, como restos de alimentação, um projétil, grafites nas paredes de vários períodos da ocupação e a piscina, que havia sido encoberta em 2007, mas relatada pelos presos como local de tortura. Utilizaram scanner 3D e fizeram registro fotográfico de todos os espaços.
Letícia Julião (Professora Associada do Curso de Museologia/Escola de Ciência da Informação - Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG) esclareceu que o trabalho da Museologia é uma parceria entre a SEDESE e a UFMG como projeto de extensão, que coordena os 6 GTs e como vêm sendo desenvolvidas as pesquisas, de forma a mostrar a extensão da interdisciplinaridade. Apresentou o Diagnóstico que realizaram, em que identificaram como lugar de disputas e negociação no processo de reconhecimento do prédio como indicador de memória e lugar simbólico da memória. Também falou do contexto atual de vulnerabilidade; disputas da memória; negacionismo da Ditadura Militar; descontinuidade de projetos com mudanças de governo; e investimento alto em um momento de crise econômica. Também sublinhou a importância da musealização, que potencializa a comunicação; sobre o conceito museológico, matriz a partir da qual todas as outras ações vão se desdobrar; como museu de sítio histórico, alinhada à linha de sítios de consciência; a memória ressignificada no presente; compromisso com uma pedagogia em direitos humanos; articulação com uma comunidade de patrimônio; e espaço de referência e catalizador de reparação histórica. Falou, ainda, sobre o recorte patrimonial com o qual atuam.
Parabéns às equipes à frente do Memorial de Direitos Humanos! Encerraram com chave de ouro nosso ciclo de lives de 2020!!
Assista a live no canal do youtube e do facebook do Núcleo Memória
Link: https://youtu.be/8zbVo3Ui77U